quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A Ressurreição do morto


By Marília Cabral com ilustrações de Milton Kennedy!

Lá pelos finalmente dos gloriosos anos 60, minha família e eu morávamos, como sempre, na então Chácara do Chafariz, com frente para a Rua Ministro Salgado Filho e fundos para o Chafariz das Duchas. Éramos 5 irmãos sendo eu a primogênita, Raimundo, Eugênio, Ângela e o caçulinha Marcos. Uma tradicional família mineira com seus costumes de época,  pais severos, uma avó doente e um avô único que será tema de outros contos.
                   Um lindo sábado de verão com o sol ardendo, Raimundo, vulgo Dinho, entra esbaforido em casa com um pedido:
-Mãe, mãe,mãeeeeeeeeeeeeeeeeee, posso ir jogar bola no Pinheirinho com meus amigos?
Minha mãe nem pensou para responder:
-Não, e já vou explicar porque não, porque quem manda aqui sou eu e não vou deixar e pronto e acabou!
Dinho despencou a chorar e acenava e dizia:
-Mas mãe não tem perigo nenhum eu não vou passar nem perto do açudinho...
-Se falar mais uma palavra ainda vai ficar de castigo!
Dinho cabisbaixo juntou seu radinho e foi curtir fossa no quarto por um tempo.
                   Não se passaram 4 horas recebemos a notícia que chocou todos da rua, os 4 meninos que foram eram todos vizinhos e muito queridos, após o jogo resolveram nadar no açudinho e para nossa tristeza um deles se afogou. Os outros até tentaram ajudar, um deles até quase se afogou também, mas infelizmente ele se afundou e não voltou mais a tona, pois ficou preso em galhos. Naquela época não havia bombeiros ou mergulhadores, e os que se atreveram a mergulhar não conseguiram achá-lo. Veio então o Corpo de Bombeiros de Pouso Alegre e depois de muita agonia e de 3 dias de espera, acharam então o   Euclides  (nome fictício). Lembro-me que a tristeza era muito grande afinal era a primeira vez que perdíamos alguém tão próximo.
Conseguimos convencer minha mãe a nos deixar passar a noite no velório  que foi na casa dele. Aquela tristeza doía lá bem no fundo e por ali ficamos cabisbaixos e conversando sobre o acidente, as vezes na sala outras vezes sentados na beira da calçada.    Lá pelas duas da manhã a noite tinha esfriado e nos sentamos na sala, quando a mãe do Clidinho começou a dizer que ele estava se mexendo, que estava vivo, e que se chamasse um médico. Todos foram ficando assustadíssimos e um cochichava com o outro e virou um burburinho só da criançada.
De repente o caixão começou um nhéeeeeeeeeeeeeeeeeeec  e só vimos  as pernas do Clidinho se levantando e flores voando para todos os lados. Adivinha quem ficou dentro da casa? Ninguém, nem a família dele. Era molecada pulando janela, pulando mureta, parecia um estouro de manada, mas era um estouro de molecada. Peguei nas mãos de dois de meus irmãos e gritava para o outro correr, e corremos muito. Chegamos em casa sem fôlego acordando meu pai, homem sem cisma que de nada tinha medo.
- Acorda pai que o Clidinho não morreu, corre pai ele se levantou do caixão, vai lá procê ver!
                   Meu pai coçou os olhos, colocou os óculos, pensou...e falou sério:
-Se não foi ele que morreu fomos nós então...Deve ser a ressurreição dos mortos!
Mas levantou-se e lá foi ele rua afora de pijama, entrou na casa e viu que o Clidinho estava com os joelhos dobrados assim como tinha ficado os três dias dentro d’água. A funerária foi chamada e o velório prosseguiu, mas claro sem a molecada, que durante muitos anos nem na porta da casa passava de tanto medo.


Aconteceu em Alfenas(MG).Caso Verídico com o nome trocado para proteger a família!

12 comentários:

  1. Que susto heim?? kkkkkkkkkkkkkkk
    Esticaram as pernas do mortinho pra caber no caixão, mas como os nervos estavam retesados acabaram dobrando os joelhos de novo...
    Eu estaria correndo até hoje!
    Beijokas e obrigada pelo comentário no meu texto.

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  2. Oi Marília, pode escrever seus textos sem receio. Ficou muito bacana. O pessoal do FB tem apreciado bastante.
    E será um prazer ilustrá-los, rsrsrs.
    Grande abraço e muita paz!

    =D


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  3. kkkkkkkkkk...tia que história mais doidaaaaa...que medo!!! Parabéns pelo texto..muito bem escrito...estou ansiosa pelo próximo =*

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  4. hahaha ótimo conto!!!
    Estou seguindo ta Marília? Adorei te ler.
    Beijoos

    saahandradee.blogspot.com

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  5. isso se chama espasmos musculares pos-mortem [eu acho que seja isso mesmo]. Tentaram colocar ele na posição que melhor coubesse dentro do caixão e ele voltou para a posição em que morreu. Aconteceu isso com um dono de funerária daqui de Aracaju: ele foi vestir um defunto e o mesmo ergue a mão atingindo-o. Desse dia em diante ele nunca mais vestiu defunto nenhum.

    Depois passa lá:
    Depois passa lá:
    http://thebigdogtales.blogspot.com/2012/02/amor-nitido.html

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  7. Amei seu conto. Aguardo ansiosa o próximo.Mil bjd da prima Marylene

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  8. Excelente história, bem contada

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